sexta-feira, 20 de junho de 2014

Homenagem ao povo de Valongo.


CARTA A JOSÉ DO VALE!


Meu caro José
qdo das terras de Vera Cruz
ao teu vale regressares
para matar saudades,
sobe ao alto da tua serra
e na encosta olhada a poente
vê como ela continua linda

Vê como ela continua bela
olhando o mar, apaixonada
pela vista
que a leva ao seu amor

Vê como ela enamorada 
recebe a brisa, 
qdo de madrugada
lhe chega grávida de desejo 
à procura do seu beijo
ao encontro do seu calor

Sobe também ao alto
da encosta virada a nascente
e demoradamente
estende o olhar sobre o Vale…
Repara como está diferente;
já não é o Vale d´antigamente 
do tempo em que partiste
e nele deixaste o teu amor
carente e triste
agora fervilha de gente,
está mais denso, José,
o teu vale está maior
e foi também com o teu suor
que o teu vale cresceu, 
ficou imenso,
não é mais o Vale d´antigamente,
o teu vale, José, é hoje um senhor

E se algum tempo trouxeres
e por algum tempo cá ficares
tira um tempo para reviveres
mais um tempo para recordares
o teu vale do tempo de rapazinho

Pega no teu neto
e vai ao museu da lousa
e mostra-lhe a arte 
e o esforço do mineiro
que a teu lado morava
quando dele foste vizinho

Aproveita e pega numa pena
e numa lousa de seguida
e nela ousa escrever
uma página da tua vida;
será o teu neto o primeiro a saber
que foi no negro dessa pedra
e na ponta dessa pena
que aprendeste a crescer
e ser homem para a vida
e na hora do almoço
quando pedires um pão
pede antes um molete
e explica ao teu neto
que nos tempos da invasão
foi o Vale de aflição
quando por ele passou a guerra
e que esse bocado de pão
que o teu neto segura na mão
foi obra da criação 
dos padeiros da vossa terra

E até o general invasor
que do seu pão não abdicava
por ser o melhor do mundo
quando desse bocado provou
rendido ao seu gosto ficou
por sabor único e profundo

E desse molete que tens na mão
fez-se notícia pelo tempo fora
da guerra fez-se vitória
mandou-se o invasor embora
e neste vale de outrora
ficou o melhor pão da história

O teu neto, José
desse dia fará memória!

(homenagem ao povo de valongo)
angelino

O poeta Angelino Santos Silva

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