quarta-feira, 9 de abril de 2014

Milhares de fósseis no Susão.


Embora nem todos os valonguenses tenham conhecimento, o maior espólio de fósseis da era paleozóica da região está num anexo a uma casa do Susão, Valongo. São milhares e milhares de exemplares fossilíferos, de seres marinhos que viveram nos mares do Paleozóico, quando o espaço físico de Valongo se encontrava submerso. São trilobites (artrópodes), braqueópodes, graptólitos, cefalópodes, bivalves, briozoários, gasterópodes e crinóides (com idades entre 230 e 570 milhões de anos).
Joaquim Marques é o autor desta recolha e recebeu o JNV no espaço museológico para revelar alguns dados sobre este trabalho voluntário e persistente de quatro décadas. Diz este homem, que faz lembrar Indiana Jones, que chegou a Valongo há quarenta anos e a primeira coisa que fez, “foi conhecer a terra, gostava muito de ir às tascas onde iam os mineiros. Eles falavam que encontravam vestígios de bichinhos nas pedras. Comecei a andar nas minas e só encontrava mesmo vestígios, já que na lousa só há vestígios. No xisto é que se encontram os fósseis. Comecei a deslocar-me até à Serra de Santa Justa e de facto encontrei muitos fósseis. A partir daí interessei-me mais, marcava o terreno e todos os fins-de-semana e nas férias andava por aí. Depois da criação do Parque Paleozóico, tive de começar a procurar outras áreas de busca. Fiz muita investigação em obras que estavam a decorrer, já que grande parte das jazidas fossilíferas estão cobertas hoje em dias pelas urbanizações, sendo que um bom número de valonguenses desconhece que a zona onde hoje habita esteve outrora submersa”.
Joaquim Marques considera-se um paleontólogo amador, tendo aprendido muita coisa em livros ingleses, franceses e espanhóis que foi adquirindo, já que há 30, 40 anos não existiam publicações em português. Hoje orgulha-se de receber em casa delegações de universidades e outros especialistas na área. O investigador valonguense define a tarefa que faz como “o encontro com a natureza, respirando as fragâncias libertadas pela vegetação e afastado do bulício citadino, num ambiente pautado pelo sossego, paz e tranquilidade. O silêncio vale ouro”.
Diz o paleontólogo que “a profusão de fósseis demonstra que Valongo possui efectivamente um grande potencial geológico e paleontológico, dignos de serem estudados e mostrados ao público, contribuindo para o desenvolvimento económico de Valongo”.
Joaquim Marques seguiu a velha máxima de que quem não tem cão caça com gato, e apesar de não possuir utensílios próprios (raros e dispendiosos) adaptava ferramentas normais em outras pouco usuais, que, aliadas a um método próprio correspondiam às necessidades. Após a recolha dos exemplares, são submetidos a uma preparação, limpeza e classificação.
“Procurei sempre adaptar-me ao ambiente geológico que me rodeava”, diz o estudioso acrescentado ter contado com o apoio da esposa Filomena, que o acompanhava nestas andanças.
Para além do espaço museológico que possui em casa, Joaquim Marques efectuou exposições em vários locais do concelho e do país. O seu espaço no Susão está à disposição que quem queira visitar, seja a título individual, famílias, mas também grupos organizados de escolas e outras instituições. Os visitantes além de verem os exemplares têm direito a uma explicação apaixonada do que estão a ver. Lamenta que muita gente em Valongo (e mesmo alguns vizinhos do Susão) não conheça o espaço, referindo que “muitos estrangeiros que aqui vêm mostram mais interesse do que os portugueses. É um incentivo ao meu trabalho ver que posso ser útil para dar a conhecer algo que faz parte da nossa história”.
A exiguidade do espaço obriga por vezes a alguma espera, daí que o paleontólogo diga que “um verdadeiro espaço museológico, com espaço e condições faz falta a Valongo e contribuiria como um pólo de atração e desenvolvimento do concelho”.
Mas nem só de fósseis viveu e vive a curiosidade de Joaquim Marques. O estudioso efectuou por exemplo um levantamento completo sobre os moinhos do Rio Ferreira, “estrutura importante para tornar Valongo capital do pão e da regueifa à época”. Diz ele que “seria interessante que fossem recuperados alguns para mostrar as tarefas de outrora às novas gerações”. Outro trabalho feito por este investigador foi o registo fotográfico das antigas minas de lousa de Valongo.

Ler + http://www.jnvalongo.com/quarenta-ano-estudar-fosseis/

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